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O inglês e eu

Comecei a estudar inglês aos 12 anos. Como sempre estudei em escola pública, e a matéria de inglês é fraquíssima, minha mãe, com muito esforço, me colocou (a filha mais velha de três meninas) em um curso particular de inglês. Aos 15 anos, uma tia que mora na Suécia me convidou para passar o fim de ano com ela. Foram três meses de contato direto com o inglês, já que eu não falava (ainda não falo) sueco. Depois disso, comecei a me interessar ainda mais pelo idioma. Voltei para o curso e comecei a frequentar as aulas de conversação.

Tempo depois, como minha mãe estava passando por dificuldades financeiras, foi à escola pedir desconto. A diretora sugeriu que, como eu era uma boa aluna, começasse a ajudar no laboratório e, em troca, receberia um desconto. De monitora, passei, com o tempo, a professora, profissão que me ajudou a pagar as despesas da faculdade de tradução.

A tradução e eu

Aos 16 anos, quando tive que escolher um curso para prestar o vestibular, a única coisa que eu sabia era: gosto de inglês. Não tinha a mínima ideia de que curso prestar. Por isso, resolvi folhear um guia de profissões e me surpreendi ao ver que existia exatamente o que eu buscava: a tradução! Foi amor à primeira vista.

No entanto, só consegui passar no vestibular dois anos após terminar a escola. No ano seguinte à minha formatura escolar, como não tinha passado no vestibular, minha tia, que agora se mudaria da Suécia para a Inglaterra e tinha acabado de ter um filho, me convidou para ser au pair. É claro que aceitei na hora! Passei 7 meses em Cambridge. Durante esse tempo, fiz dois cursos de inglês e prestei o TOEFL e o CAE. E apaixonei-me pela Inglaterra!

Quando voltei para o Brasil, continuei dando aulas de inglês enquanto estudava para o vestibular. Profissão que também exerci durante os quatro anos do meu tão sonhado curso de Bacharelado em Letras com Habilitação em Tradução (inglês e italiano), na Unesp (São José do Rio Preto, SP).

Durante esse tempo, a Inglaterra não saía da minha cabeça. Eu queria fazer um curso de mestrado em interpretação naquele país incrível, unindo, dessa forma, o útil ao agradável. No entanto, uma semana antes de eu embarcar para a Inglaterra, recebi uma ligação da universidade (Universidade de Surrey, Guildford) informando que o curso de interpretação não seria realizado para o português brasileiro, e eu teria que optar por outro curso. A princípio, fiquei triste, é claro, e acabei optando pelo curso de Estudos da Tradução com Comunicação Intercultural. Para compensar, a universidade ofereceu algumas aulas individuais de interpretação e pude assistir às aulas teóricas de interpretação como aluna ouvinte. Foi aí que descobri que, na verdade, meu dom era mesmo para a tradução, não para a interpretação, como eu achava. No fim das contas, tudo acabou se resolvendo da melhor forma.

Eu tradutora

Quando o mestrado terminou, depois de um ano, voltei para o Brasil. Por mais que eu ame a Inglaterra de forma inexplicável, o Brasil é a minha casa.

Voltei sabendo o que queria: ser tradutora freelance, trabalhando em casa. No entanto, imaginava que demoraria para eu conseguir clientes, portanto, comecei a buscar outros cargos que envolvessem idiomas, como secretária bilíngue. Nessa busca, encontrei o inesperado: uma agência de tradução de São Paulo (sou de Rio Claro, interior do estado) que buscava tradutores freelance! Fiz o teste, passei e comecei a prestar serviços para a empresa em tempo integral.

Apanhei muito no começo! Não há graduação, mestrado nem doutorado que ensine como realmente é na prática. Quase não dormia, trabalhava aos finais de semana e feriados. Comecei ganhando R$ 0,03/palavra. Mas estava feliz da vida! Lembro-me de fazer as contas do primeiro mês e comemorar, pois ganharia mais que qualquer outro cargo que eu estava buscando.

Depois de um mês, passei a ganhar R$ 0,05/palavra e já tive que abrir uma empresa para fornecer nota fiscal.

Nesses mais de seis anos de experiência, fui aprendendo com a prática. Fiquei anos trabalhando só com essa agência, mas acabei descobrindo que não era o ideal e que eles não eram tão bons assim, embora tivessem me ajudado muito no meu começo. Busquei, e continuo buscando, novos clientes. Anualmente, aumento meus valores por palavra, que variam muito de acordo com o cliente, par de idiomas, tipo de texto, etc.

Aprendi que as seguintes características são extremamente valorizadas pelos clientes:

  • Abertura a feedbacks
    Sempre fui muito aberta a feedbacks e sempre recebi muitos feedbacks, e isso me ajudou muito a melhorar como profissional. Aprendo com meus erros e questiono o que não concordo, a fim de tentar entender e aprender ainda mais. Dificilmente cometo um mesmo erro duas vezes. E, se o faço, não há uma terceira vez! Por incrível que pareça, segundo os clientes, ninguém nem abre esses feedbacks! É difícil encontrar tradutores que aceitem críticas positivas, infelizmente.
  • Prontidão na resposta
    Sabe aquela regra de produtividade que diz que não devemos ler e responder aos e-mails prontamente? Não sigo. Pelo menos não para clientes. Se é cliente, minha regra de ouro é responder imediatamente ou assim que possível. Faça para os outros o que você gostaria que fizessem com você, certo?
  • Disposição em ajudar
    Tente, o máximo possível, estar à disposição do seu cliente, principalmente daqueles que você valoriza. Faça um favorzinho aqui, abra uma exceção ali, tente chegar a um acordo para ajudá-lo. Acredite em mim, além de receber um “You rock!” vez ou outra, o cliente confiará 100% em você para qualquer trabalho.
  • Cumprimento de prazos
    Se fosse por mim, este item nem estaria aqui, pois considero uma obrigação inquestionável. No entanto, já me surpreendi muito com clientes me agradecendo como se eu estivesse fazendo um baita favor! Nunca, absolutamente nunca, atrase projetos! Esteja sempre preparado para o imprevisível. Preveja (com certa antecedência) um possível atraso e entre imediatamente em contato com o cliente. Nunca, jamais, o deixe no escuro. Mantenha-o informado sobre o andamento do projeto. E, antes de mais nada, nunca aceite projetos com prazos que você não tem certeza se pode cumprir ou tente negociar o prazo. Dica: os clientes sempre nos consultam com prazos com uma relativa folga. Quase sempre dá para melhorar um pouco o prazo. 😉

Essa foi minha trajetória, experiência e aprendizados como tradutora até agora (ainda tenho um longo cominho de aprendizados pela frente). Ninguém terá um começo como o meu nem como o de nenhuma outra pessoa. Cada começo é diferente, não é possível prevê-lo. O que é possível fazer é ter força de vontade e cabeça aberta e não medir esforços.


 

Caroline Alberoni é tradutora há mais de seis anos. Tradutora nata, é mestre em Estudos da Tradução com Comunicação Intercultural pela University of Surrey (Inglaterra) e bacharel em Letras com Habilitação em Tradução pela UNESP. Responsável pela Alberoni Translations, Caroline traduz materiais de TI, marketing e negócios do inglês e do italiano para o português. É membro da Abrates e do Sintra. Apaixonada pelo que faz, gosta de compartilhar conteúdo interessante e útil da área em suas mídias sociais (você pode encontrá-la no Facebook, Twitter, LinkedIn, YouTube, Pinterest), em seu blog e em seu podcast (TradTalk).