Este é um tópico bastante amplo, sem uma receita ou ponto de partida específicos. No entanto, há alguns itens a serem considerados antes de tomar essa decisão.
Muitas pessoas pensam que basta ser bilíngue para saber traduzir. Isso é um grave erro, tanto de quem quer ser tradutor como de quem precisa contratar serviços de tradução.
A tradução envolve muito mais do que apenas traduzir. Logo, ser bilíngue não é suficiente. Aqueles que seguem a profissão considerando apenas o fato de serem bilíngues acabam entregando traduções ruins e são responsáveis por jogar os preços para baixo, uma vez que não possuem a experiência, formação e conhecimentos necessários para realizar um trabalho de qualidade. Já os que contratam tradutores amadores, acabam perdendo tempo e dinheiro, pois uma tradução malfeita precisa ser refeita, e isso gera atraso e custo adicional para o cliente.
Não é necessário ser formado em tradução, especificamente, mas eu defendo que é importantíssimo ter diploma universitário.
Além disso, é necessário gostar de ler (muito!) e escrever extremamente bem no seu idioma nativo. Digo idioma nativo pois, o correto, é traduzir da sua segunda língua para a sua língua nativa, ou seja, se você é brasileiro e aprendeu inglês, você deve trabalhar somente no par inglês para o português.
É claro que há exceção, e ela reside justamente no nível de fluência que o tradutor tem na segunda língua, pois uma tradução não pode soar como tradução. Ao escrever na segunda língua, o texto tem que ter o mesmo tom, linguajar, construção, regionalismos e culturalismos que um nativo usaria para escrever.
A maioria dos tradutores são competentes apenas para traduzir para a língua nativa. Já a versão, isto é, verter o texto da língua nativa para a língua estrangeira, é uma habilidade de poucos tradutores profissionais.
O bilinguismo do tradutor é, certamente, a principal habilidade necessária, mas não é a única.
Tradutores também precisam conhecer a terminologia de suas áreas de especialização, precisam ser proficientes nas tecnologias que a indústria usa e devem ser excelentes escritores em sua língua-alvo.
No que diz respeito as áreas de especialização, defendo ser imprescindível conhecer muito bem, e de preferência ter tido alguma prática ou estudo avançado, nas áreas que se vai traduzir, como a área jurídica, de engenharia, medicina, meio ambiente, etc.
Ser tradutor é como ser mãe, pois são várias profissões em uma.
Você pode ser um excelente tradutor, mas se você não souber como comercializar o seu serviço, lidar com clientes, cumprir prazos, controlar o seu faturamento e suas despesas, investir em educação continuada e manter-se atualizado, você sofrerá bastante para ter uma boa renda e uma imagem respeitável no mercado.
Eu sempre digo que, além do bilinguismo, há outros cinco aspectos a serem considerados. São eles:
- Visão de negócios
Quando se é um tradutor autônomo, é preciso entender que você também é responsável por vendas, marketing, suporte, atendimento ao cliente, contabilidade (junto com um contador), gestão de projeto, etc. A não ser que você queira, e possa, pagar outras pessoas para fazer tudo isso para você.
- Motivação
Trabalhar como tradutor pode ser, por vezes, um pouco solitário, então é preciso manter a motivação, para tudo: conseguir clientes, cumprir prazos, organizar o faturamento, etc. É importantíssimo ser capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo – o famoso “multitask” – pois você terá de lidar com vários clientes, prazos, arquivos e assuntos ao mesmo tempo.
- Pés no chão
É importante saber que o início pode ser lento. Leva tempo para construir uma boa base de clientes. Sendo assim, é muito comum as pessoas começarem aos poucos, mantendo o emprego “normal” durante o dia e fazendo traduções a noite e aos finais de semana, até que as coisas peguem ritmo e te ofereçam uma boa remuneração mensal, ao ponto de você se sentir confortável em abandonar o “day job”.
- Investimento
O investimento inicial é relativamente baixo, mas ele existe. Você precisa ter alguns bons dicionários especializados ou literatura básica de referência (para áreas especializadas), computador, acesso à internet, uma ferramenta CAT e um lugar confortável, com boa iluminação e, de preferência, com móveis ergonomicamente adequados para trabalhar. No entanto, vale lembrar que o investimento na fluência do idioma deve ser contínuo, ou seja, você deve sempre ler periódicos especializados, fazer cursos, intercâmbios, viagens, visitas técnicas, etc.
- Cliente
Inicialmente, a forma mais fácil de conseguir clientes é através da sua rede de amigos, pois todos trabalham para alguma empresa que, eventualmente, precisará de traduções. Se você fizer um bom trabalho, outros clientes surgirão a partir destes contatos e a sua rede crescerá exponencialmente.
A outra forma é contatar agências de tradução e participar de redes especializadas de tradutores.
Há quem prefira trabalhar somente com clientes diretos ou só com agências, mas isso é combustível para um próximo post.
Olá! Adorei o conteúdo. Se possível, gostaria de perguntar: há espaço pra quem é fluente em uma segunda língua, mas não possui nenhum diploma universitário e quer trabalhar como tradutor na área audiovisual?
Deveria ir estudando sozinho, fazendo cursos livres e fazendo trabalhos voluntários para adquirir experiência?
No meu caso, é quase inconcebível entrar numa universidade por razões financeiras e, do jeito que as coisas estão indo, não vejo isso acontecendo tão cedo.
Desde já, obrigado!
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Olá! Sim, é possível, mas é imprescindível fazer cursos para se preparar para o mercado. Para começar, sugiro você se inscrever na palestra informativa da Escola de Tradutores: https://www.escoladetradutores.com.br/cursos/av.html
Mercado de Tradução Audiovisual
Como funciona, quais são as áreas e como trabalhar em cada uma delas.
Palestrante: Carol Bruni
Dia 29 de março das 19h30 às 21h
Duração: 1h30
Valor: R$ 132,00
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